Paraísos cercados de mar, que integram a geografia única da cidade do Rio, as ilhas são ambientes ricos em rochas, biodiversidade e histórias. Também são lugares cheios de segredos para os moradores e turistas que as admiram de longe. O livro “Ilhas cariocas”, que acaba de ser lançado pela editora Andrea Jakobsson Estúdio, tendo a Praticagem do Rio como um dos patrocinadores, revela as belezas e riquezas, muitas guardada a sete chaves, desse patrimônio do Rio. Fotos e mapas antigos e imagens do premiado fotógrafo Marco Terranova – que foi a campo explorar com sua lente esses cenários – ilustram a publicação, que conta com textos de um time de especialistas, sob a organização do oceanógrafo David Zee.
O livro é um convite aos leitores para navegarem pelo litoral carioca como os antigos viajantes. Pela primeira vez, uma publicação reúne informações sobre as 70 ilhas pertencentes à cidade, sendo 17 oceânicas e 53 nas baías de Guanabara e Sepetiba (são 42 na Baía de Guanabara e 11 em Sepetiba). Quem folheia suas páginas se depara a todo instante com descobertas. Você sabia que as ilhas cariocas já foram montanhas?
– Eu queria muito fazer esse livro para que os moradores e visitantes do Rio conhecessem essas ilhas que eles veem da janela, do carro ou da praia – afirma Andrea Jakobsson, explicando que o livro traz diferentes abordagens sobre o tema, desde a formação desses ambientes. – O livro voltou muito tempo atrás, há 60 milhões de anos, para buscar a formação geológica da costa carioca e as eras geológicas que alagaram e secaram o litoral, unindo e separando a plataforma continental. Acho incrível pensar que as ilhas, na verdade, são picos afogados que já foram montanhas. Também é interessante pensar que o município tem ilha rochosas e sedimentares, com aspectos muito diferentes.
O primeiro capítulo, “De que são feitas as ilhas cariocas?”, é assinado pelo geógrafo e geólogo Marcelo Motta. A influência desse cordão de ilhas sobre as praias do nosso litoral é assunto para David Zee em “Ilhas e mar”. Já a riqueza da fauna e da flora é investigada pelo ecologista Carlos Frederico Duarte Rocha no capítulo “Biodiversidade das ilhas cariocas”. Em seguida, a historiadora Heloísa Meireles Gesteira e a bibliotecária Maria Dulce de Faria se debruçam, em “Conexões cariocas”, sobre o estudo da centralidade do Rio de Janeiro nas relações políticas e comerciais entre os séculos XVI e XVIII, representada na cartografia e no papel relevante das ilhas nesse passado. Já o arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti, em “Aquarelas da Guanabara”, destaca a importância estratégica das ilhas e afloramentos cristalinos da entrada da Baía na defesa da cidade e também no desenvolvimento socioeconômico e cultural do Rio. No último capítulo, “As transformações da cidade e as apropriações do espaço marítimo”, Marcelo Motta passeia pela geografia física e humana para mostrar a evolução das paisagens insulares.
– Já pensou que a Ilha do Governador foi coberta pela Mata Atlântica? E que foi dividida em sesmarias pelos herdeiros de Estácio de Sá? São muitas descobertas nesse livro, que conta com mapas que mostram as ilhas como referências para a identificação do litoral e depois, no caso da Baía de Guanabara, para receber fortalezas que protegessem a cidade – ressalta Andrea.
Marco Terranova, em suas explorações, dormiu na Ilha do Farol, um marco do cenário carioca, se deparou com uma revoada de trinta-réis-real numa das ilhas de Sepetiba e visitou as ruínas da vedete Luz del Fuego em Tapuamas de Dentro, na Baía de Guanabara.
– Fotografei da Ilha de Villegagnon, ocupada pelos franceses no século XVI e a mais famosa do Rio, à restinga de Marambaia, que, poucos sabem, é na verdade uma ilha – diz Terranova, que retrata no livro lados antagônicos dessas paisagens, uma prova da importância de se voltar o olhar para esses ambientes e valorizar medidas de proteção. – No livro, há uma foto feita com drone que mostra uma reserva protegida na Ilha do Governador e o limite entre essa vegetação, que nos remete ao período da chegada dos portugueses, e a degradação e ocupação desordenada.