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Responsável por tirar navio que bateu da Ponte Rio-Niterói relata momentos de perigo: ‘Grau de tensão elevado



Operação, que durou cinco horas e meia, foi a mais delicada da carreira do prático Rafael de Aguiar Dracxler

Por Ludmilla de Lima — Rio de Janeiro (O GLOBO)

Embarcação estava sem qualquer sistema de funcionamento Reprodução

Por volta das 19h da última segunda-feira, quando entrou no São Luiz, o prático Rafael de Aguiar Dracxler se deparou com uma embarcação tomada pela corrosão e sem motores ou qualquer outro instrumento de navegação. Da asa e bombordo (área externa à esquerda) do navio fantasma, há pelo menos seis anos sem manutenção, ele assumiu o controle — via rádio e com o uso de cinco rebocadores — da manobra emergencial para a retirada do graneleiro de 200 metros de extensão e 30 metros de largura da região da Ponte Rio-Niterói. A atração ocorreu no Porto do Rio. A operação, que durou cinco horas e meia e exigiu que o tráfego de embarcações na Baía de Guanabara fosse fechado, foi a mais delicada da carreira de Dracxler, há 10 anos na Praticagem do Rio.

Acostumado a manobrar grandes navios, foi a primeira vez que ele encontrou uma embarcação sem qualquer sistema em funcionamento, incluindo de propulsão. O fato de a ação ocorrer à noite e com ventos na Baía de Guanabara aumentou a tensão da operação, realizada sem que se soubesse os danos causados ao São Luiz durante a colisão com a Ponte e as condições estruturais do casco.

overlay-clever— Não tinha ideia da situação do casco, e isso era uma preocupação extra. Depois de seis anos sem manutenção e em estado precário, não tinha como saber se o navio suportaria a ação dos rebocadores. Os cabeços, onde prendemos os cabos dos rebocadores, estavam completamente enferrujados. Não podia forçar a amarração, para não correr o risco de que se rompessem e, assim, perder o controle do navio numa área delicada, que é a do Porto do Rio — explica ele.

Veja fotos de como ficou o navio São Luiz, que colidiu com a Ponte Rio-Niterói

Avarias sofridas pelo navio São Luiz, que colidiu com a Ponte Rio-Niterói — Foto: Divulgação
Avarias sofridas pelo navio São Luiz, que colidiu com a Ponte Rio-Niterói — Foto: Divulgação
Estrutura da chaminé ficou danificada com a colisão em pilar da Ponte Rio-Niterói — Foto: Reprodução/TV Globo

Dracxler conta que teve o apoio de integrantes da Marinha nas amarrações, sendo que todo o trabalho foi feito sem luz dentro do São Luiz, já que o navio não tem mais energia elétrica. Vídeos de toda a manobra mostram escadas, cabeços e outras partes da embarcação corroídas.

—Tinha uma preocupação com o dano ambiental que o navio poderia causar se tivesse, por exemplo, embarcando água. Foi uma manobra emergencial, com grau de tensão elevado, para a liberação da Ponte — afirma o prático, ressaltando que o São Luiz representava ainda riscos à segurança da navegação na Baía e de acidentes com pessoas . — A Praticagem foi acionada e agiu rapidamente. A manobra foi feita a reboque, e agora o navio se encontra em segurança entre os armazéns 13 e 14 do Porto do Rio.